Recentemente, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) divulgou uma estimativa de que, no final de 2025, o Brasil terá mais 2 milhões de pacientes oncológicos em relação a 2023. Cada um desses pacientes terá uma equipe por trás de seus tratamentos: médicos, enfermeiros e farmacêuticos que dedicam suas vidas e carreiras a pacientes com neoplasias.

Cada membro desse time tem uma função e todos eles precisam trabalhar como uma engrenagem bem lubrificada para que o paciente receba a melhor assistência possível. No caso de um tratamento quimioterápico ou imunoterápico, os médicos avaliam o paciente e fazem a prescrição e os enfermeiros administram o tratamento, mas entre eles está o farmacêutico e seu papel fundamental.

Na oncologia, o profissional da farmácia representa um papel tão delicado que o Conselho Federal de Farmácia (CFF) o regularizou através da Resolução nº 640/2017. Para estar apto a assumir um cargo na área, um bacharel em farmácia deve atender a um dos seguintes pré-requisitos: 

  • Título de especialista emitido pela Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia (SOBRAFO);
  • Residência na área de Oncologia;
  • Conclusão de programa de pós-graduação lato sensu reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) relacionado à farmácia oncológica;
  • Experiência comprovada de pelo menos três anos na área de oncologia, evidenciada por meio de Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) ou de contrato e declaração do serviço, com a devida descrição das atividades realizadas e do período de atuação.”

O papel do farmacêutico na oncologia:

No que se refere a garantir ao paciente o melhor tratamento, a farmácia é essencial em qualquer setor da saúde, contudo quimioterápicos são medicamentos particularmente perigosos. Eles equilibram curar e prejudicar sobre uma barreira tênue definida pela equipe médica. Nesse sentido, o farmacêutico é tanto responsável por preparar o medicamento quanto por analisar criticamente a prescrição e o histórico médico.

Esse trabalho analítico faz toda a diferença, afinal o tópico é uma terapia cuja “velocidade de infusão dos quimioterápicos é um parâmetro crítico. Infusões mais rápidas do que o indicado podem aumentar a toxicidade e os efeitos adversos.”. Não apenas isso, mas “doses sem esse ajuste [de peso] podem resultar em subdosagem ou superdosagem”. E há outras questões que, se não forem levadas em consideração, podem colocar em risco a vida do paciente.

Com essas análises, o profissional tem respaldo técnico e teórico para interferir junto à equipe de médicos e enfermeiros, exigindo uma revisão das prescrições e administrações. Em alguns casos, essa atenção salva vidas. 

Três casos oncológicos em que o farmacêutico fez a diferença:

  • Caso 1: superdosagem e não adaptação do tratamento as mudanças de peso da paciente 

No papel de farmacêutico, um profissional precisa pensar não apenas no que está escrito na prescrição, mas no que sabe sobre o paciente. A necessidade de interações pode surgir tanto de um erro óbvio na dosagem quanto em um breve encontro com a paciente nos corredores do hospital. Ambas as situações ocorreram nesse caso:

Anamnese da paciente: mulher, 40 anos, 69 kg, R2 positivo, diagnóstico de câncer de mama seguido de cirurgia, tratamento com quimioterápico em duas doses - ataque (8 mg/kg - 552 mg inicialmente) e manutenção (6 mg/kg - 414 mg inicialmente).

Atuação do farmacêutico ao longo do atendimento: o primeiro contato do profissional com a paciente se deu na primeira aplicação. Na ocasião, o farmacêutico acompanhou a aplicação para avaliar a reação do paciente e orientá-lo sobre o que podia esperar em efeitos adversos e complicações. Não houve necessidade de intervenção. 

Essa, no entanto, surgiu na segunda aplicação. Ao receber a prescrição - graças a atenção que deu ao caso - o farmacêutico responsável percebeu que a dose prevista era a de manutenção, enquanto a receita indicava dose de ataque. O profissional entrou em contato com o oncologista responsável pelo caso e realizou a intervenção que resultou em uma nova receita.

Após aproximadamente dois meses, houve a segunda intervenção. Essa se deu quando o profissional da farmácia encontrou a paciente durante outro atendimento e percebeu que ela perdera peso. Averiguando a prescrição do dia e as das últimas sessões, no entanto, era nítido que a dose não havia sido ajustada. Novamente, houve um contato com a oncologia e a prescrição foi ajustada, o que resultou em uma dose menor.. 

Sem as intervenções, a paciente correria o risco de sofrer uma toxicidade sistêmica ou específica com agravantes. Não só isso, mas - no que tange o papel do profissional da saúde em garantir um serviço sustentável - a quimioterapia é cara, além de prejuízo financeiro (no caso particular), a superdose poderia ter sido utilizada para o tratamento de outro paciente (especialmente no caso público).

É comum na oncologia o uso de  duas terapias diferentes ao mesmo tempo. Contudo, é preciso atenção ao uso combinado desses medicamentos e aos possíveis efeitos que possam resultar de sua interação. Eles vão de diminuir a eficácia da terapia a comprometer a função dos sistemas e podem colocar o paciente em perigo. É papel do farmacêutico reconhecer o potencial perigo e intervir junto a equipe médica, como ocorreu nesse caso. 

Anamnese da paciente: mulher, 65 anos, histórico de tromboembolismo venoso, dislipidemia e hipertensão arterial, uso crônico de varfarina, sinvastatina e enalapril, diagnóstico de câncer de mama metastático, tratamento quimioterápico em dois ativos - doxorrubicina e ciclofosfamida.

Atuação do farmacêutico ao longo do atendimento: Ao receber a prescrição, o farmacêutico prestou uma atenção especial no caso e se atentou tanto à receita médica quanto ao histórico do paciente. Foi quando notou que, juntas, a ciclofosfamida e a varfarina poderiam levar a eventos hemorrágicos. Também constatou que a combinação entre enalapril e sinvastatina eleva o risco de miopatia (condição que afeta o tecido muscular). 

A intervenção do farmacêutico levou à substituição da sinvastatina por pravastatina. Além disso, foi solicitada uma rotina de avaliações laboratoriais com o objetivo de avaliar o fluxo sanguíneo. Os resultados foram base para a adaptação do tratamento. Além disso, educar a paciente sobre os possíveis efeitos otimizou o tempo de resposta da equipe clínica e diminui os riscos associados, afinal ela soube o que esperar e quando informar. 

Um dos principais pontos no check list dos cuidados ao preparar e administrar uma terapia quimioterápica é a diluição. Se feita incorretamente, pode acarretar precipitação, extravasamento, instabilidade ou neurotoxicidade ao medicamento e colocar o paciente em risco. O papel do farmacêutico é se atentar ao protocolo de preparo, a aparência do medicamento e ao material utilizado. 

Anamnese da paciente: homem, adulto, sem histórico significativo, diagnóstico de câncer de pulmão de não pequenas células, tratamento quimioterápico intravenoso com cisplatina (100 mg/m²  em 1.000 mL de solução salina a 0,9%).

Atuação do farmacêutico ao longo do atendimento: Neste caso, o paciente já havia realizado algumas sessões de quimioterapia até o momento em que o erro aconteceu. Ele recebia tratamento em um hospital universitário, onde o responsável pelo preparo do medicamento era um técnico, enquanto cabia ao farmacêutico supervisionar e checar. 

Na ocasião, devido a uma falha - de atenção ou comunicação - o técnico usou 500 mL de solução (metade do que constava na prescrição), duplicando a concentração da cisplatina na mistura e elevando o risco de nefrotoxicidade.  A atenção do farmacêutico responsável durante a checagem impediu que o paciente fosse exposto ao erro. 

A intervenção levou a produção de um novo preparo e ao descarte protocolar da mistura errada. Nesse caso, outra conduta correta por parte do farmacêutico foi promover um treinamento junto a equipe, durante o qual reforçou a importância da dupla checagem durante o processo de preparação. Essa atenção evitou danos ao sistema renal do paciente, assim como futuros erros.


 

Conclusão:

O tratamento pode tanto salvar uma vida quanto colocá-la em perigo. A ação do farmacêutico - assim como seu pensamento crítico, suas habilidades de comunicação e o conhecimento que acumula - traça esse limite. 

Na oncologia, onde pequenos detalhes podem ter consequências enormes é preciso ainda mais dedicação, por isso a especialização tem uma regulamentação rígida. Os professores e coordenadores da Pós-EAD São Camilo em Farmácia Clínica em Oncologia levaram essa responsabilidade em alta consideração quando estruturam o curso. 

Nossa missão é com a vida e nossa forma de cumpri-la é educando em saúde com teoria, prática e qualidade. Atenda aos pré-requisitos do CFF para atuar em farmacologia oncológica e aprenda todas as ferramentas e técnicas para desempenhar sua função com eficiência e segurança. 

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