Quais são os avanços mais recentes no tratamento do câncer?
A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estimou que serão confirmados mais de 35,3 milhões de novos casos de câncer em 2050, o que representa um aumento de 77% em relação aos 20 milhões de casos registrados em 2022.
No que se refere ao Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a projeção para o triênio 2023-2025 aponta para a ocorrência de cerca de 704 mil novos casos de câncer por ano, sendo as regiões Sul e Sudeste responsáveis por aproximadamente 70% desse total.
Esses dados representam um cenário desafiador e preocupante que ameaça a saúde pública. Para superar tal desafio, é crucial que haja investimento em pesquisas para o desenvolvimento de novos tratamentos para o câncer.
Nos últimos anos, a área de farmácia oncológica, em colaboração com outros setores, fez novas descobertas fundamentais de novas formas de tratar o câncer, incluindo:
- Veneno de cobra cascavel;
- Terapia gênica;
- Imunoterapia;
- Terapia-alvo.
Veneno de cobra cascavel
Um novo estudo conduzido pelo Instituto Butantan, em colaboração com a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), indicou que uma das toxinas presentes no veneno da cobra cascavel pode ter potencial no tratamento do câncer.
Os pesquisadores afirmaram que os testes foram realizados em camundongos saudáveis e em camundongos portadores de câncer de peritônio.
Para comparação de resultados, os animais foram divididos em três grupos, dos quais o primeiro recebeu solução salina, o segundo recebeu uma pequena dose de crotoxina e o terceiro recebeu uma dose maior de crotoxina.
Após 13 dias, observou-se que os camundongos que receberam a menor dose da toxina apresentaram melhores resultados. Em seus organismos, foi observada a presença de 60% de um tipo específico de célula de defesa chamada macrófagos M1, quantidade equivalente à encontrada nos camundongos saudáveis. Essas células são importantes para combater o desenvolvimento de tumores.
Além disso, entre o sexto e o último dia do experimento, o grupo que recebeu a menor dose também conseguiu reduzir o volume do tumor em 27%.
Os próximos passos do estudo serão observar e avaliar os possíveis efeitos colaterais da crotoxina no organismo antes de planejar os testes em seres humanos.
Imunoterapia
Imunoterapia é uma abordagem terapêutica no tratamento do câncer, cujo princípio central é estimular o sistema imunológico do paciente para reconhecer e combater as células cancerígenas de forma mais eficaz.
Esta modalidade de tratamento tem ganhado destaque significativo nas últimas décadas devido à sua capacidade de induzir respostas duradouras e específicas contra o câncer, com menos efeitos colaterais em comparação com as terapias convencionais, como quimioterapia e radioterapia.
A imunoterapia abrange uma variedade de abordagens, como vacinas, anticorpos monoclonais e células geneticamente modificadas.
As vacinas são projetadas para treinar o sistema imunológico a reconhecer e atacar antígenos presentes nas células tumorais. Já os anticorpos monoclonais têm sido amplamente utilizados para direcionar moléculas específicas nas células cancerígenas, marcando-as para destruição pelo sistema imunológico.
Outra estratégia promissora é o uso de células geneticamente modificadas, como as células CAR-T, que são projetadas para identificar e destruir seletivamente as células cancerígenas.
Terapia gênica
Na terapia gênica, transfere-se uma sequência de ácido nucléico para as células do paciente, visando corrigir defeitos genéticos, estimular o sistema imunológico ou induzir a morte celular programada.
O material genético transferido é geralmente um gene, comumente na forma de DNA complementar (cDNA), que contém informações genéticas para produzir uma proteína funcional que pode alterar o funcionamento celular.
Existem duas formas de realizar a terapia gênica: in vivo e ex vivo. Na técnica in vivo, o gene é introduzido diretamente no organismo, enquanto na técnica ex vivo, as células são retiradas do indivíduo, modificadas e introduzidas novamente.
O exemplo mais comumente utilizado de terapia gênica ex vivo é a chamada CAR-T, que consiste em utilizar células T do paciente modificadas em laboratório para reconhecer e atacar as células cancerígenas.
Em 2022, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o produto Kymriah, que emprega a tecnologia de células CAR-T para o tratamento da Leucemia Linfoblástica Aguda (LLA) de células B, refratária ou a partir da segunda recidiva em pacientes com até 25 anos de idade. O tratamento também é recomendado para pacientes adultos com Linfoma Difuso de Grandes Células B (LDGCB) recidivado ou refratário, após duas ou mais linhas de terapia sistêmica.
Em janeiro de 2024, a Anvisa também concedeu aprovação para o medicamento de terapia gênica TECARTUS, indicado para o tratamento de adultos com Linfoma de Células do Manto (LCM), quando os sintomas ou a doença retornam (recidiva) ou quando não respondem (refratário) após dois ou mais tratamentos anteriores. Este medicamento também utiliza as células CAR-T geneticamente modificadas.
Terapia-alvo
As células cancerígenas frequentemente apresentam alterações em seus genes e comportam-se de maneira distinta das células normais. Assim, a terapia-alvo consiste em identificar e atacar especificamente as moléculas presentes nessas células, causando danos mínimos às células normais.
Para isso, são prescritos medicamentos e outras substâncias que, ao contrário dos tratamentos quimioterápicos convencionais, têm um efeito direcionado e, na maioria das vezes, impedem que as células cancerígenas se dividam e se multipliquem.
Quais são os desafios no tratamento farmacêutico do câncer?
Apesar dos avanços significativos, ainda existem desafios a serem superados no tratamento farmacêutico do câncer, incluindo a resistência tumoral, os efeitos colaterais dos tratamentos e o acesso de todos os pacientes às terapias mais recentes.
Para avançar nesta área e garantir que os pacientes recebam o tratamento adequado, é necessário que a farmácia oncológica conte com especialistas equipados com amplo conhecimento técnico.
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REFERÊNCIAS
G1. Testes indicam que veneno da cobra cascavel pode ajudar no tratamento contra câncer; entenda. 28 mar. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/noticia/2024/03/28/testes-indicam-que-veneno-da-cobra-cascavel-pode-ajudar-no-tratamento-contra-cancer-entenda.ghtml. Acesso em: 04 abr. 2024.
CFF. Como a indústria farmacêutica vem revolucionando o tratamento do câncer. 27 mar. 2024. Disponível em: https://site.cff.org.br/noticia/Noticias-gerais/27/03/2024/como-a-industria-farmaceutica-vem-revolucionando-o-tratamento-do-cancer. Acesso em: 04 abr. 2024.
CFF. Anvisa aprova novo medicamento de terapia avançada para tratamento de câncer no Brasil. 02 jan. 2024. Disponível em: https://site.cff.org.br/noticia/noticias-do-cff/02/01/2024/anvisa-aprova-novo-medicamento-de-terapia-avancada-para-tratamento-de-cancer-no-brasil. Acesso em: 04 abr. 2024.
O GLOBO. OMS: casos de câncer vão crescer 77% até 2050; entenda por quê. 01 fev. 2024. Disponível em: https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2024/02/01/oms-casos-de-cancer-detectados-aumentarao-77percent-em-2050-em-relacao-a-2022-saiba-por-que.ghtml. Acesso em: 04 abr. 2024.
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