Ao longo das últimas décadas, a participação feminina no mercado de trabalho cresceu exponencialmente. Se no início do século XX, as mulheres eram relegadas aos papéis de dona de casa, professora primária ou enfermeira, hoje elas são 53% da força de trabalho global - mais de 46% da força de trabalho brasileira - ocupam cargos de liderança em multinacionais e empreendem com sucesso em vários ramos da economia.
A mudança, que começou com a Revolução Industrial, foi progressiva e pouco igualitária. As mulheres eram vistas como mais fracas e, portanto, eram pouco valorizadas. Na verdade, as diferenças físicas e os preconceitos foram responsáveis por impulsionar a participação feminina no mercado de trabalho: como - nos costumes da época - não podiam fazer tanto quanto os homens, o salário delas poderia ser menor enquanto a carga de trabalho era a mesma. A possibilidade de economia motivou muitas indústrias a adotar uma mão de obra majoritariamente feminina. Contudo, essas trabalhadoras não eram bem vistas e recebiam o pior do julgamento social.
Com as Grandes Guerras, porém, a substituição foi impulsionada por uma nova necessidade. Com os homens indo para as trincheiras, e a decorrente falta de mão de obra, houve uma paralisação de produções, comércios e, por consequência, da economia. Para retornar o consumo e o movimento de capital, a sociedade superou velhos preconceitos e passou a introduzir a população feminina em cargos que, até então, eram exclusivamente masculinos.
Depois disso, com o fim da guerra e o retorno da população masculina, os número de mulheres economicamente ativas voltaram a cair até atingir a margem 14,7%. Foi esse cenário que despertaram o movimento feminista e a luta por diretiros iguais. No Brasil, essa batalha marcou a década de 1960 - dividindo holofotes com o regime militar - e teve resultados já nos anos 1970: um pequeno, mas expressivo, aumento da força feminina nas relações trabalhistas.
Outra vitória do movimento está na Constituição Federal de 1988. Além de autorizar à instituição da cidadania e dos direitos humanos às mulheres, o documento é um marco na proteção da força de trabalho feminina. No artigo 7º do documento, que - além de introduzir as mulheres como mão de obra - aborda os direitos dos trabalhadores e determina pontos que fizeram toda a diferença na entrada da massa feminina no mercado de trabalho:
“XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias;
[...]
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei;
[...]
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)”
Tendo em vista o ponto de origem, a sociedade atual chegou longe no que se refere ao acesso de mulheres no mercado de trabalho. Contudo, ainda há muitos desafios, barreiras e preconceitos sociais e culturais que interferem no posicionamento feminino dentro do âmbito ocupacional.
Os desafios que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho
Hoje, as mulheres aproveitam vitórias históricas e estão no mercado de trabalho com proteção constitucional e direitos trabalhistas, contudo ainda há um longo caminho a ser percorrido. Apesar de a população feminina ter conquistado um espaço forte, elas ainda lutam contra a misoginia e o preconceito.
A começar pelo teto de vidro, expressão que se refere à uma barreira que mantém as mulheres afastadas de cargos de liderança. Elas podem sempre olhar para cima e almejar os cargos de gestão, mas não importa o quanto se esforcem, nunca vão alcançá-los. Em números, isso significa que - na realidade contemporânea - apenas 16% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres.
Outro dado preocupante gira em torno da disparidade salarial. Da revolução industrial para a era moderna, as mulheres deram grandes saltos, mas ainda faltam muitos a serem dados quando o assunto é valorização. Em muitas empresas, o mesmo cargo tem uma diferença de até 20% na remuneração, a variável? O gênero biológico de quem ocupa o cargo, a benefício dos homens. Além disso, como a população feminina está em minoria na ocupação de cargos de liderança - que culturalmente pagam mais - a média salarial das mulheres também é negativamente impactada.
Ainda mais grave é a falta de voz e segurança que muitas mulheres enfrentam no dia a dia profissional. Em uma população analisada pela Think Eva, quase 50% das entrevistadas relatam terem sido vítimas de algum tipo de abuso no ambiente de trabalho. No Brasil, entre 2020 e 2023, a Justiça do Trabalho julgou mais de 400 mil casos de assédio moral e sexual. Essa realidade é, infelizmente, tão comum que faz parte do enredo de filmes em qualquer gênero, inclusive das leves comédias românticas - um exemplo famoso sendo a produção Legalmente Loira (“Legaly Bloond”, 2001).
São lutas em andamento e a vitória definitiva está longe de ser um cenário garantido. Contudo, de batalha em batalha as mulheres estão angariando pontos e reunindo histórias de sucesso e inspiração. Em muitas delas, o caminho para a superação começa com a educação continuada, uma busca por diferencial e aprimoramento de práticas e teorias.
Especialização como ferramenta para as mulheres avançarem no mercado de trabalho
Não existe conhecimento demais. Não importa a área de atuação, toda profissão está sujeita a mudanças drásticas, movidas pelas descobertas nos setores de pesquisa e desenvolvimento. Surge então a necessidade de um aprendizado contínuo, que mantenha as práticas atualizadas e o profissional qualificado para os desafios mais recentes.
Cursos rápidos, certificações, workshops, seminários, palestras, treinamento e, é claro, pós-graduações, são recursos para os profissionais que desejam atuar com máximo preparo e conhecimento. Faz sentido, então, que o mercado de trabalho reconheça e valorize currículos que demonstrem uma preocupação com o aprimoramento constante.
Colocando em números, cerca de 20% da população tem uma graduação completa no currículo, o número cai para 1% quando o assunto é uma pós, na teoria isso significaria ultrapassar 38 milhões de brasileiros na corrida pelas melhores oportunidades de emprego. Não só isso, mas algumas empresas e, em especial, órgãos públicos costumam oferecer uma remuneração adicional a depender do nível de escolaridade.
Para as mulheres, se especializar é uma ferramenta ainda mais importante. Em um mundo que as subestima e diminui, ter essa certificação no currículo já é uma forma de se colocar acima do preconceito, mas atuar com a confiança e o preparo que o conhecimento garante é uma forma de superar as barreiras que são impostas ao gênero femino e reforçar seu potencial e a importância no mercado de trabalho.
Segundo Rosa Santero - professora e pesquisadora da Universidade Rei Ruan Carlos - e Maribel Martínez - diretora e fundadora de Abay Analistas - “quando se enfrenta muitos obstáculos e vêm que não podem avançar, elas [as mulheres] acumulam qualificações como estratégia”. Em complemento, Asunción Puig - diretora dos programas Partners no Esade Executive Education - afirma que esse comportamento é a resposta à busca das empresas - que “muitas vezes é baseada na preparação acadêmica” - por um bom desempenho.
Para superar o preconceito e a misoginia, criar ambientes mais equitativos e alcançar melhores remunerações e cargos de liderança, as mulheres precisam se provar mais do que os homens. Nesse sentido, “a formação é muito importante, é um símbolo claro de que se pode apostar nesse talento”, conclui Nuria Zaragoza, gerente de desenvolvimento de negócios na Kara. Ao longo dos últimos anos, as mulheres tem dominado cada vez mais espaço, tendo a especialização como aliada.
3 casos reais de sucesso aliado a especialização
Tarciana Medeiros - Presidente do Banco do Brasil
A primeira mulher a assumir a presidência do Banco do Brasil em 214 anos, Tarciana já foi feirante, professora e, até atingir o cargo atual, passou 23 anos subindo de cargo na empresa. Ao longo dessa história ela concluiu três pós-graduações, sendo que todas as certificações ocorreram poucos meses antes de uma grande promoção.
Passou por momentos difíceis enquanto mulher. No início da sua trajetória executiva, sofreu preconceitos pela sua origem paraibana, chegando a ouvir em uma entrevista de emprego que seu sotaque “poderia ser” um problema e que ela deveria buscar ajuda de um fonoaudiólogo para resolver.
Seus principais conselhos para as mulheres são: nunca se deixar diminuir para caber nas crenças de outras pessoas e “se você não sabe algo que é importante, saiba quem sabe. Procure e aprenda”.
“Por vezes, duvidam da nossa capacidade apenas por sermos mulheres. Mas precisamos seguir em frente. Devemos estudar, manter nossos valores”
Livia Chanes – Presidente do Nubank
Livia Chanes, é graduada em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo (USP), tem MBA pela Harvard Business School, mestrado em engenharia pela École Nationale des Ponts et Chaussées de Paris e MBA na Insead em Cingapura. Uma longa jornada acadêmica, com reflexos em sua carreira.
Ela já passou pelo Itaú, onde foi diretora de empreendimentos tecnológicos, teve dez anos de história no McKynsey e hoje é CEO da Nubank no Brasil. “Vivi ambientes de microagressão muito explícitos, de discriminação velada, sutil, mas também muito clara. Comportamentos e atitudes feitas por uma mulher eram penalizados e pelo homem eram celebrados. Vivi isso, mas não aceitei”, conta ela.
Para ela, aprimorar conhecimentos é um compromisso: “uma educação de alta qualidade carrega também uma grande responsabilidade: a de empregar nosso conhecimento e habilidades para o desenvolvimento do nosso país e do mundo.”
Luciana Starcz
arini Batista – da Coca-Cola Brasil
Graduada em Psicologia pela USP, MBA pela FGV e pela INSEAD, passagem pela escola de negócios da USP, a atual CEO da Coca-Cola Brasil investiu muito tempo e esforço em sua qualificação acadêmica. A história ilustra sua visão profissional: “para mim, fazer acontecer significou buscar desafios, trabalhar duro e ocupar meu espaço”.
Uma de suas maiores preocupações como líder e como uma mulher que está a muito tempo no mercado de trabalho, é a paridade entre homens e mulheres. Sua percepção da desigualdade veio com o amadurecimento: “conforme minha vida profissional progredia, percebia que o número de mulheres em posições de liderança reduzia de forma acelerada”.
Adquirir conhecimento sempre foi uma ferramenta na luta pela equidade de gêneros no âmbito profissional. Ela conseguiu superar os obstáculos e alcançar o cargo de CEO em uma das empresas mais rentáveis do Brasil. “E como presidente da Coca-Cola Brasil e Cone Sul, reconheço minha responsabilidade de seguir multiplicando este impacto e trazendo mais parceiros nesta jornada”, estabelece seu compromisso com um futuro com mais mulheres na gestão.
Além das especializações, ela desenvolve pesquisas e estudos sobre os panoramas atuais do mercado. Sendo que um deles “revelou que a probabilidade de uma mulher dizer que foi tachada de emotiva e demasiadamente agressiva é 70% maior que a de um homem. Além disso, mulheres em cargos de liderança sênior, quando comparadas a seus pares homens, recebem mais feedback sobre precisar mudar seu estilo, ser mais estratégicas e de mostrar conquistas mais concretas”.
Conclusão
A trajetória dessas mulheres demonstra que investir em qualificação é adquirir uma ferramenta sem igual na quebra de barreiras do mercado de trabalho. Mulheres que trabalham enfrentam desafios que vão muito além da prática de sua profissão.
Elas estão inseridas em um mundo que as desacredita a cada passo, que as desvaloriza e subestima e tudo que puderem usar para superar esse obstáculo é uma opção válida de estratégia. Nesse sentido, se especializar é uma opção que agrega na hora da contratação e da promoção. Ela não entra apenas como um diferencial, mas também como um agregado de conhecimento técnico e teórico que faz toda a diferença na prática profissional, na autoestima e na defesa contra qualquer um que tente inferiorizar o trabalho de uma mulher.
A missão da Pós EAD São Camilo é prezar pela vida e, para cumprir com ela, a instituição se preocupa em garantir uma presença forte de mulheres no mercado de trabalho e, principalmente, em posições de liderança. Oferecemos mais de 84 cursos em 16 áreas, com um corpo docente composto em grande parte por mulheres e um ambiente didático que favorece a todos. As mulheres nesse artigo começaram do mesmo lugar onde você está agora e chegaram longe, faça como elas: dê o primeiro passo.