De acordo com dados da Demografia Médica no Brasil (2018), a Urologia é a especialidade com o menor número de mulheres atuando nela. O próprio Conselho Federal de Medicina aponta que esse número gira em torno de 2,2% de todos os profissionais da área.
Informações do mesmo estudo mostram que, apesar de as mulheres representarem 51,5% da população brasileira, os homens ainda são maioria dos especialistas em Medicina, representando 57,5% dos profissionais da área.
Ou seja, a desigualdade de gênero não é um problema exclusivo da área de Urologia. Só na Medicina, especialidades de grande destaque como Ortopedia e Traumatologia têm apenas 6,5% de mulheres atuando; a Neurocirurgia conta com 8,6% de mulheres; a Cirurgia Torácica, com 9,5%; e a Cirurgia do Aparelho Digestivo, com 10,3% de atuação feminina.
Assim, das 54 especialidades médicas, apenas 18 contam com maioria feminina, entre elas: Dermatologia (77,1%), Pediatria (74,2%), Endocrinologia (70,4%), Imunologia (68,2%) e Ginecologia e Obstetrícia (56,6%).
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Desbravadoras!
De acordo com a Dra. Rafaela Rosalba em entrevista ao Portal UOL, a Urologia é uma especialidade vasta, que vai muito além do atendimento ao público masculino. É uma área que também se dedica a pequenos procedimentos e a grandes transplantes. Ainda segundo a especialista, foi isso que a atraiu ao campo da Urologia.
A entrevista do Portal UOL mostra que, em 1996, existiam apenas 16 mulheres inscritas na Sociedade Brasileira de Urologia. Todavia, um recente levantamento da Sociedade Brasileira de Medicina aponta que, em 2020, esse número cresceu para 109 mulheres, de acordo com o portaldaurologia.org.br.
Ainda é um número pequeno em relação à quantidade de homens atuando na área, porém, é um crescimento bastante significativo para a sociedade e para a área médica.
Boa parte das mulheres que escolheram essa especialidade incomum entre o público feminino é atraída ainda na fase de estágio, quando percebem que a especialidade tem grande abrangência cirúrgica no trato urinário, rins, ureteres, bexiga, uretra, órgãos do sistema reprodutor masculino (testículos, epidídimo, ducto deferente, vesículas seminais, próstata e pênis), ou seja, não se dedica apenas à parte sexual do homem, mas vai muito além do ‘famigerado’ exame de toque retal, motivo de preconceito até mesmo entre os próprios médicos e pacientes.
Preconceito
A prova disso é que alguns pacientes marcam consultas já solicitando profissionais do sexo masculino. No Sistema Único de Saúde (SUS), no qual não é possível escolher o especialista, os pacientes costumam não disfarçar a surpresa ao se deparar com urologistas mulheres.
A Dra. Maria Cláudia Bicudo Fürst, ainda em entrevista ao Portal de Notícias UOL, conta que já viveu um constrangimento relacionado a isso:
"Eu ainda estava na residência, em atendimento na rede pública, quando um homem se negou a fazer o exame de toque comigo. O jeito foi chamar um colega", conta a médica, que diz ser comum as brincadeiras de pacientes por seu dedo ser menor do que o de um homem.
Já no caso da Dra. Rafaela Rosalba, foi ainda mais constrangedor, pois ela conta ter sido indicada para trabalhar num laboratório, mas não pôde ocupar a vaga simplesmente por ser mulher. "Isso porque, de acordo com as normas internas, só se contratavam mulheres para a área de ginecologia, e só homens para a área de urologia", afirma.
Isso mostra que, mesmo havendo pacientes que, por falta de conhecimento, acabam preferindo profissionais do sexo masculino, existe o outro lado da moeda: os que dão preferência às profissionais do sexo feminino.
"Muitas mulheres, por exemplo, se sentem mais confortáveis em expor seus problemas a nós. Teve até um homem que precisou colocar uma prótese de pênis que optou por mim porque disse que não admitia falar para outro homem que tinha disfunção erétil", conta a Dra. Maria Cláudia em entrevista ao Portal de Notícias UOL, na qual afirmou ainda que:
“A melhor forma de superar qualquer preconceito é o mérito, a dedicação e o amor à profissão. Se você é um bom profissional, ninguém vai ligar se ele é homem ou mulher”.
Enfim, o preconceito existe, mas com dedicação, capacitação e competência, conseguimos continuar desbravando qualquer área e, independentemente do sexo, exercer com excelência a profissão que escolhemos.
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