Fevereiro é o mês de conscientização e combate a doenças crônicas, entre as quais está o Lúpus. Em termos técnicos, essa patologia é uma desordem inflamatória autoimune, que pode afetar múltiplos órgãos e, em casos mais graves, ser fatal. Em outras palavras, o sistema imunológico - que deveria defender o corpo - ataca tecidos saudáveis, causando inflamações e, consequentemente, falhas sistêmicas.
Os sintomas podem se manifestar na pele, nas articulações, nos rins, no cérebro e em vários outros sistemas do corpo humano. Por isso, um paciente com a doença precisa ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar de médicos, enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos, nutricionistas e assim por diante, atenta ao funcionamento de cada órgão e ao corpo como um todo.
Selena Gomez entra aqui com uma personalidade famosa que, em 2013, foi diagnosticada com Lúpus. Desde então, o caso clínico da artista tem chamado atenção e ela se tornou uma porta-voz dessa batalha.
Quem é Selena Gomez:
Estrela mirim da Disney, cantora premiada pela MTV, Mulher do Ano pela Billboard, dona da Rare Beauty, ex do Justin Bieber, atriz com indicação a Interpretação Feminina participação em “Emilia Pérez”... As pessoas podem até não saber, mas já ouviram falar de Selena Gomez em algum momento.
A estadunidense de ascendência mexicana está na mídia desde os 7 anos de idade, participou de "Barney e Seus Amigos". Seu nome então cresceu e hoje - 24 anos depois - ela entrou no clube de elite dos músicos bilionários. Sua carreira foi meteórica e abrangente, assim como seu caso de Lúpus.
O caso clínico:
Selena foi diagnosticada com lúpus eritematoso sistêmico (LES) em 2013, quando tinha 16 para 17 anos de idade. Na época ela já vinha sentindo alguns sintomas: “E tinha
febre, dores de cabeça. Ficava cansada. Mas sempre continuei.”, contou em 2017, durante uma entrevista para a TODAY;
A notícia só foi divulgada ao público em 2015, quando - no palco da Billboard - revelou sua condição, os sintomas que enfrentou e alguns dos tratamentos pelos quais passou nos dois anos após o diagnóstico. Entre os tópicos comentados, ela mencionou que passou por quimioterapia para tratar a doença, tem crises frequentes de dor generalizada e que correu o risco de sofrer um derrame.
- Psicologia e psiquiatria:
Um fato sobre o lúpus - em especial o tipo apresentado pela cantora - é que a doença afeta o sistema nervoso central, ou seja, a lista de sintomas podem incluir alterações emocionais e psiquiátricas. Alguns sinais comuns são perda de memória, depressão, convulsões, ansiedade, psicose, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e outras alterações cognitivas.
No caso da famosa, seu psicológico foi afetado em 2016. Ela cancelou uma turnê para tratar ataques de pânico, depressão e ansiedade em um centro de reabilitação. Em entrevista para a Vogue, contou que o palco, antes tão familiar, se tornou um gatilho: "Comecei a ter ataques de pânico logo antes de subir no palco, ou logo depois de sair”.
Durante o tratamento, ela recebeu apoio de uma equipe de psicólogos e enfermeiros especializados em tratamento intensivo para adultos que lutam com diagnósticos duplos. Esse time foi fundamental para que ela se sentisse pronta para voltar ao mundo.
Nefrologia:
Uma das complicações mais comuns do LES é a nefrite lúpica. Ela ocorre quando os anticorpos atacam os rins e tem consequências sérias como perda de função renal. Há duas rotas de tratamento: diálise ou transplante, a depender de quanto os rins foram afetados.
No caso de Selena, sua necessidade imediata era por um transplante. Porém, a fila de espera por um doador compatível poderia se prolongar por até dez anos. Como seus órgãos estavam parando de funcionar, a cantora ficou algumas semanas em diálise até que Francia Raisa - sua melhor amiga - se ofereceu para realizar uma doação direta e passou nos testes de compatibilidade.
A cirurgia ocorreu e ambas iniciaram o processo de recuperação. Algumas horas depois, contudo, a dor fez Selena se virar e o movimento rompeu uma artéria. Os médicos e enfermeiros trabalharam durante seis horas para construir uma nova via a partir de um vaso sanguíneo da perna da artista.
Sem um profundo conhecimento do sistema renal e de protocolos da UTI, tanto o transplante quanto salvar o órgão poderia ter demorado muito mais e, consequentemente, trazer mais consequências para a paciente. A conclusão, pensando em termos de carreira, é que uma pós-graduação não faz diferença apenas para o currículo de quem estuda, mas também para os pacientes que são atendidos.
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- Obstetrícia:
Mais recentemente, em 2024, Selena veio a público sobre - como consequência do lúpus - não poder carregar seus próprios filhos. Isso se deve ao fato médico de que a gravidez em mulheres com LES é de alto risco. Abortos espontâneos, morte fetal, parto prematuro e outras complicações são comuns e colocam em risco tanto a vida da mãe, quanto a do feto.
Em suas palavras, a cantora teve que lamentar a notícia, mas que está em um lugar melhor com a informação: “Acho uma bênção que existam pessoas maravilhosas dispostas a fazer barriga de aluguel ou adoção, que são ambas possibilidades enormes para mim".
Apesar do caso da cantora - em que, além do lúpus, também há uma grande preocupação dos médicos em relação à medicação para os distúrbios mentais associados - uma paciente com essa condição pode gestar. É necessário, contudo, o acompanhamento contínuo e atento de médicos e enfermeiros obstetras especializados.
- Obesidade e emagrecimento:
Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), a tendência para pacientes com LES é o emagrecimento, alguns casos - porém - fogem do padrão. Foi o que aconteceu com Selena Gomez devido, principalmente, aos medicamentos que tomou para combater a doença.
Ao longo do tratamento, a atriz viu sua imagem ser julgada pela internet e foi criticada pela mudança na silhueta. Ela deu sua resposta em uma live em sua conta no TikTok em 2023 "[Quando estou tomando os remédios,] tendo a reter muita água e por isso ganho peso, e isso acontece normalmente. Quando estou sem tomar, tendo a perder peso."
Apesar de ela ter aprendido a se amar, o período foi difícil. Ela passou por acompanhamento nutricional e médico para ajudar a controlar o sintoma, afinal a obesidade é um fator que pode desencadear crises do lúpus e piorar o quadro.
Conclusão
Um paciente com lúpus tem um problema no sistema imune, mas - e apesar de a causa ter uma origem muito clara - a abrangência dos sintomas gera a necessidade de uma equipe de especialistas em várias áreas. Em 2023, uma pesquisa realizada pela Medscape revelou que 5 milhões de pessoas no mundo tinham diagnóstico confirmado de LES, e que esse número aumenta com o decorrer dos anos.
É uma parcela significativa da população que precisa de especialistas em nefrologia, oncologia, farmácia clínica, psicologia, nutrição, fisioterapia e assim por diante. Fazer uma pós-graduação muda o seu futuro para que você possa mudar o futuro deles.
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